segunda-feira, agosto 27, 2007

  • Não atropele a gramática ao falar
    Reinaldo Polito

    1. "Fazem muitos anos" que este erro ocupa o primeiro lugar no pódioNão é conveniente, por exemplo, dizer "fazem três anos, fazem muitos anos". A explicação para essa questão gramatical é simples. Quando o verbo "fazer" se refere a tempo ou indica fenômenos da natureza deve permanecer na terceira pessoa do singular, porque é impessoal, não tem sujeito e, por isso, não pode ser flexionado. Portanto, mais apropriado seria dizer: Faz três anos que ocupo o cargo de diretor na empresa. Faz oito meses que parei de fumar.A mesma regra pode ser aplicada para o verbo haver quando usado no sentido de existir. Por exemplo: Havia manchas em todas as roupas, e não "haviam manchas em todas as roupas". Houve comentários favoráveis à proposta, e não "houveram".
  • 2. A segunda posição vai para haja vistoDe acordo com as minhas anotações, o segundo deslize gramatical de maior incidência na comunicação oral é o uso de "haja visto" no lugar de "haja vista". A expressão haja vista não varia, pois sua formação ocorre com a terceira pessoa do imperativo do verbo haver acrescida de vista, um substantivo feminino. Exemplo: Haja vista as notícias de corrupção estampadas nos jornais.
  • 3. Mim tem presença garantida no pódioExplique melhor "para mim entender". O terceiro deslize gramatical mais freqüente na comunicação oral possui uma peculiaridade bastante curiosa: a maioria que desconsidera essa regra sabe como deveria falar, mas o hábito é tão automatizado que quando as pessoas se dão conta já escapou. É mais fácil entender do que pôr em prática. O "eu" deve ser usado antes do verbo porque nesse caso ele funciona como sujeito do infinitivo. Só se usa o "mim" quando não houver um verbo depois do "para", como neste exemplo: Ele trouxe a roupa para mim. Também em casos em que se completa o sentido de adjetivos, como difícil e impossível, o certo é para mim, porque já não haverá sujeito. Está difícil para mim aceitar esse acordo com os fornecedores. É quase impossível para mim manter esse nível de produção. Como eu disse, essa é uma questão delicada. Se você for uma das vítimas dela, arregace as mangas para uma longa contenda, pois dá trabalho se livrar de um erro que participa naturalmente da comunicação
    4. A pessoa fica "meia chateada" quando comete esse erroE é para ficar mesmo, pois se há uma incorreção que tira uma pessoa do pedestal é usar meia no lugar de meio quando se referir a um adjetivo. Nesse caso, quando equivale a mais ou menos, um pouco, meio é um advérbio e por isso não pode variar. Portanto, esse erro de gramática deixa a imagem da pessoa meio prejudicada, e não meia prejudicada.Lembre-se de que meia só é usado quando equivale a metade: meia garrafa, meia carga...
  • 5. Quando ele vir ao seu encontro vai ser uma tristeza!Esse erro puxa o tapete das pessoas o tempo todo. É impressionante como confundem o verbo vir com o verbo ver no futuro do subjuntivo (precedido de se ou quando). Para não errar, lembre-se de que o
  • verbo vir exige a forma vier. "Quando ele vier para o trabalho..."
  • e não: Quando ele vir... "Se os jogares vierem para o treino..."
  • e não: Se os jogadores virem... Por outro lado, o verbo ver exige a forma vir. Assim sendo, devemos usar: "Quando a professora vir o aluno" - e não: "Quando a professora ver o aluno". "Se os consultores virem o diagnóstico" - e não: "Se os consultores verem..."
  • 6. Há diferença entre "ir de encontro a" e "ir ao encontro de"É bastante comum confundirem o significado de "ir ao encontro de" com o de "ir de encontro a". "Ir ao encontro de" significa estar a favor, concordar, comungar da mesma opinião. Enquanto "ir de encontro a" significa estar contra, discordar, não partilhar a mesma opinião. Por esse motivo, diga: As decisões foram ao encontro dos nossos interesses (a favor).As medidas governamentais não podem ir de encontro às necessidades da população (contra).
  • 7. Muitas incorreções gramaticais, menas essaEssa não dá nem para comentar. Em todo caso, lá vai uma explicação rápida e resumida -menos é palavra invariável, portanto não existe a palavra menas, por mais feminino que seja o substantivo.
    8. Aqui no final, algumas rapidinhas que podem ser perigosas
    Há cinco anos atrás é redundânciaOu você usa há cinco anos, ou cinco anos atrás, mas não há cinco anos atrás.
    Um plus a mais tambémPlus é um advérbio de origem latina que significa mais. Portanto, pare nele, sem o a mais.
    Não troque nenhum por qualquerNão use qualquer em orações negativas no lugar de nenhum.Assim, diga: Não temos nenhuma chance de perdoá-lo, e não: Não temos qualquer chance de perdoá-lo.
    Apesar de ser título de livro famoso, ainda continuam dizendo éramos em seis no lugar de éramos seisNão use a preposição "em" entre o verbo e o numeral. Diga: Éramos cinco, íamos quatro no trem. E não: Éramos em cinco, íamos em quatro no trem.
    Ele está a par ou ao par?As informações são diferentes. A par significa informado, ciente, e é uma expressão usada com o verbo estar. Por exemplo: Não estava a par do que ocorrera. Ao par, por sua vez, significa título ou moeda do mesmo valor. Por exemplo: Com as últimas medidas tomadas pelos ministros, o câmbio ficará ao par.
  • E, só para lembrar, devemos pronunciar: Canhota (nhó), clitóris (tó), fluido (úi), gratuito (úi), ibero (bé), ínterim (ín), Nobel (bél), rubrica (brí), ruim (ím).


Se você não comete nenhum desses erros, parabéns. Agora, se percebeu que precisa de aprimoramento, comece já a estudar. É um aprendizado valioso para a vida toda.

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