sexta-feira, março 14, 2008



O dilema da alta definição





O formato Blu-ray, da Sony, venceu a guerra da nova geração do vídeo
doméstico. Mas será que já é hora de fazer o investimento?



Foram anos de disputa acirrada pelo posto de formato-padrão para o DVD com alta definição. De um lado estavam os criadores do disco Blu-ray, liderados pela Sony. Do outro, a Toshiba, criadora do HD-DVD. Na contenda, as duas empresas provocaram uma divisão entre os fabricantes de eletrônicos, os estúdios de cinema e as grandes lojas de varejo, e ainda deixaram os consumidores confusos. Em meados de fevereiro, a briga finalmente acabou, quando a Toshiba decidiu parar de produzir seus discos e aparelhos de HD-DVD, ao perder o apoio de grandes do varejo, como Wal-Mart, e dos estúdios de cinema, como a Warner Brothers. Com o fim da batalha, também acabou a confusão sobre qual será a próxima tecnologia dos vídeos digitais: o formato que estará à venda nas lojas é o Blu-ray. Hora de ir às compras? Não tenha tanta pressa assim. Embora a qualidade da imagem e do som do Blu-ray seja de fato impressionante, a tecnologia ainda está em evolução e tem muito a melhorar e a provar. Os preços são altos e, apesar da morte do HD-DVD, existe um novo concorrente no horizonte: os serviços de distribuição digital pela internet. Antes de mergulhar de cabeça na nova geração do vídeo, é preciso entender as vantagens e as desvantagens da tecnologia.
O ponto alto, naturalmente, é a definição, que é muito melhor que a dos DVDs e também supera a da TV digital. O Blu-ray (chamado assim por usar um laser azul na leitura e na gravação de dados) tem definição de 1 080 linhas. Os DVDs convencionais são gravados com apenas 480. Na prática, a diferença significa a visualização de detalhes de plantas numa floresta, faíscas de uma fogueira e até rugas no rosto dos atores. Os ganhos de qualidade se estendem ao som. Os discos do novo formato têm mais canais de áudio, o que permite uma experiência mais próxima à do cinema. Mas, para desfrutar de todo o potencial do Blu-ray, o investimento hoje ainda é bastante alto. O leitor mais barato à venda no país custa cerca de 2 600 reais. Para ver um filme com a qualidade máxima, é necessário ter uma TV de alta definição full HD. E, para obter o som de cinema, é preciso ter um home theater moderno, que disponha de até sete canais de áudio. A Samsung lançou um home theater Blu-ray com preço sugerido de 3 999 reais. A TV de alta definição de 42 polegadas mais barata custa em torno de 5 000 reais. A seleção de filmes ainda é muito pequena. No Submarino, por exemplo, há apenas 207 títulos no formato Blu-ray à venda, muitos deles importados. E custam, em média, 100 reais.
Apesar da pouca variedade de filmes em alta definição, os leitores de Blu-ray também podem ser usados para assistir a DVDs convencionais -- e com mais qualidade. Eles contam com a função upscaling, recurso de software que melhora a imagem. Mas esse também é um dos calcanhares-de-aquiles da nova geração. Existem diversos outros aparelhos capazes de fazer o upscaling, e eles custam uma fração do preço de um tocador de Blu-ray. Embora haja diferença na qualidade do que se vê na tela, para muitos consumidores o ganho pode ser imperceptível. "A maioria das pessoas não enxerga muita diferença", diz Carl Gressum, analista sênior da consultoria Ovum, especializada em tecnologia. Mas há outra, e potencialmente maior, ameaça ao novo formato: a internet. Enquanto Toshiba e Sony gastavam bilhões de dólares na disputa da supremacia na alta definição, a tecnologia de distribuição de vídeos e os acessos de alta velocidade continuaram evoluindo.
Quem compra ou aluga um filme pela internet não tem a imagem mais cristalina do mundo nem é envolvido pelo som em sete canais. Mas tem a comodidade de escolher em um cardápio que conta com milhares de opções a um clique do mouse -- ou do controle remoto. A locadora americana Netflix, que entrega discos pelo correio, começou a disponibilizar vídeos pela rede. Nos primeiros seis meses, o serviço teve 5 milhões de visualizações. Nos dois meses seguintes, subiu para 10 milhões. O computador não é o único meio para ver os filmes baixados. A Apple criou uma versão do aparelho Apple TV, que pode ser conectado à TV e à internet para baixar filmes na tela, sem precisar passar por um PC. A maior parte dos vídeos disponíveis está no padrão convencional, mas já há títulos em alta definição. Aparelhos semelhantes são oferecidos pela Vudu e pela TiVo. Empresas americanas de telefonia estão investindo nesse meio com pacotes de vídeo sob demanda. Esses serviços de download e streaming ainda não estão disponíveis no Brasil, pois a liberação dos filmes para o meio online é feita individualmente em cada país.
E o que isso tem a ver com os brasileiros que querem comprar um aparelho Blu-ray? Mais do que você imagina. As novidades podem desviar a atenção dos consumidores americanos e europeus, que representam grande parte do mercado de vídeo, dificultando a expansão do Blu-ray. Se a nova tecnologia não tiver demanda suficiente, os preços vão demorar ainda mais para cair. Existe até mesmo um risco não desprezível de que a alta definição se torne um mercado de nicho, restrito àqueles que prestam mais atenção nas minúcias técnicas da imagem do que na história que está sendo contada. Mas o mundo da distribuição digital ainda é uma promessa, e o Blu-ray já virou realidade -- só é preciso fazer as contas com atenção para saber se essa tecnologia vale mesmo a pena.


Vale a pena?

O Blu-ray venceu a guerra dos formatos, mas os preços do leitor e dos filmes ainda são altos. Conheça os prós e os contras de aderir aos vídeos de alta definição.





PRÓS


A imagem é a melhor disponível hoje no mercado de vídeo doméstico. Ela é formada por 1 080 linhas, ante 480 linhas da imagem do DVD convencional
Com maior capacidade de armazenamento (que pode chegar a 50 gigabytes), os discos Blu-ray podem ter mais conteúdo extra, como jogos e entrevistas
Muitos dos leitores são compatíveis com os DVDs convencionais e contam com o recurso de upscaling, ou seja, exibem os filmes com qualidade superior
Apartir do segundo semestre estará disponível um programa de acesso à internet pelo aparelho, que vai permitir a atualização de conteúdos para os filmes


CONTRAS

Os discos de Blu-ray têm preço alto. Custam, em média, 100 reais. Os discos no formato convencional têm preços que variam de 10 a 50 reais
O leitor também é mais caro. Hoje, o aparelho de Blu-ray mais barato disponível nas lojas do país custa cerca de 2 600 reais
Só pode aproveitar toda a qualidade de imagem do Blu-ray quem tem uma TV de alta definição full HD. Isso implica custos ainda maiores
A quantidade de títulos disponíveis em Blu-ray ainda é pequena. Há cerca de 500 vídeos no novo formato, ante 70 000 títulos no padrão convencional.






Fonte: EXAME




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