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Na foto: tatoo de Nando Zevê |
O festival No Ar Coquetel Molotov, já conhecido por apresentar novos artistas e projetos que têm despontado na cena musical contemporânea, e por oferecer experiências diversas relacionadas a comportamento e novas tendências, terá mais uma inovação em 2017. A Convenção No Ar de Tatuagem, que acontece dentro do evento, no dia 21 de outubro, no Caxangá Golf Club.
Diferente da praxe de convenções de tatuagens, com caráter competitivo e categorias bem definidas, a Convenção No Ar de Tatuagem procura borrar as fronteiras entre arte e tatuagem e ampliar as possibilidades das técnicas, formas e suportes de criação dos tatuadores. Durante todo o dia, quem visitar o espaço poderá conferir uma exposição com os trabalhos de 11 artistas-tatuadores do Recife, além, claro, levar na pele alguns dos riscos disponíveis.
A curadoria e idealização da iniciativa foi do artista e tatuador pernambucano, Nando Zevê, que vem desenhando em sua trajetória a confluência entre diferentes referências artísticas e a tatuagem. Para a escolha dos tatuadores foi aberto um processo seletivo, em busca de artistas que desenvolvem trabalhos autorais. "Esses tatuadores não são da linha tradicional. Eu busquei perfis com linhas de pesquisa que fugissem do que está pré-definido na tatuagem", explica o artista. O resultado contempla tanto profissionais já consolidados no mercado, como artistas emergentes. Além do próprio Nando, participam da Convenção NoAr de Tatuagem: Ganja Pessoa, Isabelle Santos, Lucas Faustino, Magda Martins, Manoel Mavik, Marcos Duarte, Paulo Victor Skaz, Raone Ferreira, Oliveira Sang e Thales Costa.
De acordo com o curador, o propósito da exposição é experimentar possibilidades e conceitos nos desenhos. "Quero que os artistas mostrem o que eles de fato estão a fim de fazer, sem se basear no que o mercado pede. A gente fica muito amarrado nesse esquema de acompanhar uma tendência, mas a gente tem capacidade de criar a tendência", instiga Zevê.
Nando Zevê
Provocar o universo das artes visuais é um exercício constante na história de Nando Zevê. Graduado em Artes Plásticas pela UFPE e tatuando desde 2006, Nando é um artista inconformado por excelência. Sempre em busca do novo, direcionou essa energia para a experimentação. Fez residências artísticas nos estúdios Lucky 13, na cidade de Toronto, no Canadá, WiseKid Tattoo and Gallery, em Amsterdã, na Holanda, e Tattoaria, em São Paulo.
Romper com as barreiras da tatuagem tradicional trouxe mais originalidade aos seus trabalhos na pele. Acompanhando o movimento internacional, passou a chamar seus projetos de autorais, campo que hoje já conta com uma cena em ascensão em Pernambuco. "Dessas viagens eu trago ideias e referências novas, de estúdios mais abertos, de trocas entre artistas em trânsito, é isso que estou querendo fazer aqui", diz Zevê.
O desejo de mexer com a cena artística dos tatuadores no estado resultou nas primeiras edições da Mostra de Sketchs - O que vem antes da dor, realizadas em 2012 e 2013, na galeria da extinta Casa do Cachorro Preto. "A ideia era apresentar ao público o processo criativo dos tatuadores, mas o mais importante dessas experiências foi conseguir trazer a tatuagem para um formato de exposição mais tradicional. Aqui em Recife ainda não tinha visto nada parecido", comenta.
Recentemente, interessado em incentivar o ensino e pesquisa sobre a tatuagem dentro da academia, Nando Zevê ministrou uma disciplina eletiva sobre Teoria e Prática da Tatuagem, ligada ao Departamento de Teoria da Arte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A carência de estudos na área resultou numa grande procura. "Foram 15 vagas disponibilizadas. No primeiro dia de aula a sala devia ter umas 30 pessoas, muitos deles estavam tentando cursar a disciplina como ouvintes. No final das contas, 19 estudantes de Artes Visuais conseguiram se matricular", conta o artista.
Antes da vivência na UFPE, Nando Zevê já havia ministrado dois workshops: um em Fortaleza (2013), a convite do Acidum Project, coletivo de artistas urbanos, e o outro no Edifício Pernambuco, no Recife, em 2015. "Todos os cursos foram voltados para artistas. Eu sempre fiz questão de ensinar pra quem já tivesse uma poética", explica o tatuador, que atualmente orienta alguns aprendizes, como o ilustrador João Lin.
ZV Tattoo e Galeria - Desde 2011 a base de trabalho de Nando Zevê tem sido a Galeria Joana D'Arc, no Pina. Nesse meio tempo, em especial do final de 2016 pra cá, muita coisa mudou. Se antes o artista preferia um estúdio individual, a fim de personalizar o atendimento aos clientes, agora o estúdio é coletivo, se aproximando do universo do coworking. A ideia é fomentar uma cena de tatuagem autoral, estimular a troca de referências, técnicas e interseção de linguagens.
No dia 17 de outubro, o ZV Tattoo assume o seu papel de galeria, com a abertura da Mostra Combustão, de João Lin. "Já que mudamos para um espaço mais amplo, podemos adequar o estúdio para realizar cursos, exposições, rodas de diálogo e residências artísticas", fala Nando Zevê. O espaço procura agregar as variadas formas de manifestação da imagem e se configura como estúdio de tatuagem, galeria de arte, local de cursos e, principalmente, de experimentação.
A proposta é estimular a criatividade, por meio de trocas de experiências entre tatuadores locais, nacionais e internacionais. "Quem faz tatuagem deseja levar consigo uma obra de arte na pele. Antigamente existiam catálogos de tattoos e todo mundo repetia aquelas imagens. Com a evolução da tecnologia, máquinas mais precisas, qualidade das tintas e das agulhas, elevou o nível técnico da tatuagem e os tatuadores estão experimentando cada vez mais. A gente quer discutir onde é que essa nova tatuagem se encaixa. É só tatuagem? Ela começa a entrar pro universo das Artes Visuais? É híbrido?", questiona Zevê.
Além das vivências coletivas, quem integra o coworking tem a estrutura para tatuar e é oferecida a maior parte do material. "A gente trabalha num esquema de parceria. A proposta não é o lucro, mas transformar o espaço em autossustentável, a partir da colaboração de vários artistas", explica Nando. O formato ainda está em processo embrionário, mas a ideia é que os recursos gerados a partir do coworking sejam revertidas para o estúdio em forma de ações de formação e de divulgação, por exemplo.
Para integrar o coworking, o tatuador deve ter um trabalho autoral e experiência na área. Quem tiver interesse em integrar o ZV Tattoo e Galeria deve enviar uma carta de apresentação e um portfólio com 10 fotos de trabalhos realizados nos últimos três meses ou o link do Instagram para o e-mail agendamentozvtattoo@gmail.com.
Conheça os tatuadores que irão participar da Convenção No Ar de Tatuagem:
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