quarta-feira, novembro 19, 2008

É com muito penar que escrevo essas mal traçadas linhas, é um pouco mais para registrar a data, o momento. Hoje morreu Guedinho aos 102 anos, ou melhor, Monsenhor Ayrton Guedes, talvez todos os conheçam assim. Ah, mas para mim era Guedinho e pronto! Era aquela pessoa que toda vez que eu ia lá - mesmo depois da doença - abria aquele sorrisão de canto a canto da orelha e se esforçava para conversar comigo. E eu sempre tentava entender o que ele tinha a dizer.
Guedinho... ...um grande homem. Talvez um exemplo a ser seguido. Ai, ai... ...não existe mais padres como antigamente. Grande confessor! E eu que dizia que só iria me confessar com ele, que não queria mais ninguém, daí ele brincava e dizia: e quando eu morrer, menina, como é que vai ser? (risos)
É, Já me confessei com outros padres, sim, mas nunca foi a mesma coisa.
E o corre-corre junto com as obrigações da vida nos afastou. Eu lutando para ganhar a vida e ele lutando para continuar a viver, mas sempre com a certeza de que um dia chegaria a sua hora.
Neste momento, as lágrimas vieram aos olhos e, rapidamente, cessaram. Lembrei que Guedinho foi quem anunciou e trouxe a cobrança do meu nome... Foi Guedinho quem deu a minha primeira extrema unção, hoje mais conhecida como unção dos enfermos no momento em que estive entre a vida e a morte na UTI de um hospital. E, graças a Deus vivi, me recuperei, cresci. Talvez esse tenha sido um dos fatos para que Guedinho me tratasse com mais candura. Não sei ao certo, só sei que sempre o admirei.
Das últimas visitas, quase não me esqueço de nenhuma. A que lembro mais intensamente e com carinho foi quando passei lá pela casa dele após sair do TCE-PE. Lembro que conversamos horas a fio. Ele, com bastante dificuldade de pronunciar as palavras e de concatenar os pensamentos e eu ali para lhe ajudar. Quase sempre eu acertava o que ele queria expressar, mas quando eu não conseguia distinguir, ai, era uma agonia tremenda. Ah, mas alegria maior era quando ele perguntava por papai ou mamãe e quando ele via um dos dois adentrando a casa. Lembro ele pronunciar, com dificuldades, "grande homem" e "Silvinha". Mas era triste vê-lo tentar falar e não conseguir. No entanto, me alegrava a força de vontade daquele homem.
Grande foi a luta, grandes foram os exemplos, grande foi a afinidade deixada. Hoje, Guedinho chega à porta dos céus com vida e saúde. Desfaz-se da matéria (corpo) e alcança a vida eterna. Deixa a herança de mais de um século de exemplos e ensinamentos. Um forte legado!!!
Sobre o que penso a respeito da morte, já postei há alguns dias atrás - que se façam minhas as palavras do Rubem Alves. Para mim, a morte não é apenas o cessar da vida, mas o início de uma outra grande jornada. Nada de ser, ou pensar, que é o fim de tudo. Talvez um grande começo, quem sabe...

domingo, novembro 16, 2008