quinta-feira, outubro 08, 2009


da Folha de S.Paulo

Texto estabelece as bases para o relacionamento entre a instituição e o Estado brasileiro e trata de temas como ensino religioso público
Acordo internacional entre o Planalto e o Vaticano foi assinado em novembro do ano passado, mas enfrentou resistência dos evangélicos

O Senado aprovou ontem projeto sobre o estatuto jurídico da Igreja Católica no país. A decisão é fruto de um acordo assinado entre o Brasil e a Santa Sé em novembro de 2008.
O projeto de decreto legislativo define as bases para o relacionamento entre a Igreja Católica e o Estado. Com 20 artigos, entra em vigor logo que for promulgado pelos presidentes da Câmara e do Senado. O Vaticano já fechou este tipo de acordo com mais de 170 países.
O documento levou mais de um ano para ser costurado e conta com 11 pontos principais. Na maioria dos casos, o acordo ratifica situações já existentes, como a validade do casamento religioso com efeito civil (previsto no Código Civil) e o ensino religioso nas escolas públicas (definido na Constituição).
Pelo acordo, Brasil e Santa Sé reconhecem às instituições assistenciais religiosas tratamento tributário e previdenciário igual a entidades civis. Ele define a colaboração do Estado na preservação de templos classificados como patrimônio cultural e deixa claro que não há vínculo empregatício de padres e voluntários com a Igreja -o objetivo desse ponto é impedir ações na Justiça trabalhista.
Quando tramitou na Câmara, o projeto enfrentou resistência da bancada evangélica, que nele viu privilégios à Igreja Católica. O Senado aprovou o texto em votação simbólica.
O ponto mais polêmico refere-se ao “ensino religioso”. Primeiro, o texto descreve “ensino religioso católico em instituições pública de ensino fundamental”. Depois, diz que “também assegura o ensino de outras confissões religiosas nesses estabelecimentos”.
O Ministério da Educação mostrou-se contrário à colocação do termo “católico” à frente dos demais. Em junho, a Coordenadoria de Ensino Fundamental do MEC disse que o acordo fere a legislação: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação não menciona nenhuma fé específica e veda o proselitismo.
Relator do projeto na Comissão de Relações Exteriores, o senador Fernando Collor (PTB-AL) disse em seu parecer que o ensino é facultativo (como diz a Constituição) e estende-se a todas as religiões. “O acordo, em termos simples, apenas sela o reconhecimento de que a Igreja Católica do Brasil está sob o comando hierárquico da Santa Sé”, disse Collor.
Contrária ao acordo com o Vaticano, a bancada evangélica da Câmara propôs uma “Lei Geral das Religiões”, com termos similares ao do acordo com a Igreja. Bispo licenciado da Igreja Universal, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) é a favor da iniciativa, mas não vê problemas no acordo com a Igreja Católica: “Não acredito que haverá privilégio. Os juristas que ouvi me disseram que o acordo é o mesmo que foi feito em mais de cem países”, disse.

quarta-feira, outubro 07, 2009


PALESTRA NO MUSEU DO ESTADO LEMBRA TRAJETÓRIA DE NILO PEREIRA

O centenário de nascimento do jornalista potiguar Nilo Pereira, será lembrado, amanhã (8), com a palestra Nilo Pereira 100 anos: Um passeio por Paris e Lisboa, que acontece às 19h30 no Museu do Estado de Pernambuco - MEPE - (Av. Rui Barbosa, 960 - Graças). A discussão será comandada pelo presidente da Academia Pernambucana de Medicina, Geraldo Pereira e irá girar em torno do livro Coisas de não esquecer, resultado da viagem a Lisboa e Paris que Nilo Pereira realizou, na década de 1960, com o intuito de conhecer e estudar as riquezas dos monumentos históricos, como as igrejas, e as peças do Museu do Louvre, em Paris. Nilo Pereira formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, mas foi no jornalismo que encontrou a grande vocação. Exerceu cargos públicos importantes, sendo nomeado secretário do Governo de Pernambuco por três vezes. Também atuou como deputado estadual e líder na Assembléia Legislativa de Pernambuco entre 1951 e 1954. O legado de Nilo Pereira também permeia a literatura, com produções sobre o cotidiano político de Pernambuco e até livros sobre amigos como Gilberto Freyre e Mauro Mota. A entrada é franca. Informações pelo telefone: (81) 3184-3005

terça-feira, outubro 06, 2009


Recebi a mensagem abaixo do amigo Ally, uma pessoa bastante especial, sincera e pela qual nutro bastante apreço. Independentemente do texto ter uma linguagem religiosa, posto ele neste espaço por deixar um verdadeiro exemplo de vida: um estilo no qual todos devem se espelhar para poder viver em um mundo melhor e mais cheio de paz.

Cegos para a verdade


Jericó era uma cidade encantadora, bordada de flores e de laranjeiras que periodicamente explodiam em festa de perfume, prenunciando a frutescência. Rica em fontes e córregos, situada próxima ao rio Jordão e a Jerusalém, constituía um dos orgulhos da Judéia.

A cidade antiga, hoje reduzida a ruínas calcinadas, data de época mui recuada, a quase VII mil a. C. em pleno período neolítico. Destruída, inúmeras vezes, teve as suas muralhas sempre reconstruídas, tendo sido palco da lenda, que se tornou clássica, em torno das trombetas de Josué, que a teriam derrubado entre os anos de 1.400 a 1.260 a. C. Sempre experimentou terríveis flagelos, como ocorreu por volta do século XVII a. C., quando foi incendiada. Abandonada essa área primitiva, foi reconstruída em lugar próximo por Herodes, que a aformoseou, preservando toda a sua grandeza histórica.

Suas belas residências e mansões hospedavam pessoas ricas e cultas, que se permitiam recepções faustosas e festas retumbantes.

Era quase passagem obrigatória entre a Galiléia e Jerusalém.

Muitas vezes Jesus a visitara, quando das suas jornadas à Cidade Santa para o Seu povo. Ali mantivera contatos comovedores, havendo, oportunamente, penetrado o coração e a mente astuta de Zaqueu, o cobrador de impostos, que se tornara detestado pela cupidez e fortuna amealhada, mas que fora tocado pelas notícias que dEle ouvira, havendo subido em uma figueira, a fim de vê-lO passar, quando foi convocado a recebê-lO no seu lar...

É de uma estrada de Jerusalém, que conduzia a Jericó, que o Mestre comporá a incomparável parábola do Bom samaritano, lecionando bondade sem alarde e amor desinteressado, como recursos essenciais para entrar-se no Reino dos Céus.

Naquela cidade, portanto, famosa também pelas frutas secas e vinho capitoso, Jesus operou fenômenos incomparáveis, tocando a sensibilidade das massas que O acompanhavam, assim como de todos aqueles que ali residiam, e os presenciaram.

Pairava no ar o perfume balsâmico da Natureza em festa, e o Sol dourava os campos ornados pelas flores primaveris. Havia uma festa de sons quase inaudíveis, entoados pelo vento e pelo farfalhar das folhas dos arvoredos, enquanto a taça de luz derramava claridade por toda parte.

O pó levantava-se, denunciando o movimento dos viajantes que se acercavam das portas da cidade amuralhada ou que por elas saíam, estuante de beleza.

Formosas figueiras esparramavam suas copas vetustas projetando sombra agradável no chão coberto de gramíneas verdejantes ornadas por miosótis miúdos e azuis. Tudo formava uma bela moldura para os acontecimentos que se desenhavam em perspectiva de felicidade no momento da saída de Jesus, que estava acompanhado de grande massa de gentes de diferentes aldeias e dali mesmo por onde passara...

Ele estivera em Jericó e deixava os seus domínios.

A algaravia e ansiedade bailavam nos lábios e nos corações de todos aqueles que O acompanhavam, como se desejassem expressar os seus ditos indizíveis.

Foi nesse momento, que dois cegos mendicantes à orla do caminho, ouvindo os aranzéis e exclamações, os cânticos de gratidão e de júbilo, começaram a gritar, pedindo socorro ao Mestre. Eles não conheciam as plumas coloridas do Sol, que derramam claridade e cor na Terra, nem a face das pessoas amadas, nem o verde dos campos ou o multicolorido das flores e dos pássaros, mas eram também filhos de Deus, desejosos de participar do banquete de felicidade em que todos ali em movimento se encontravam.

Faziam tal balbúrdia, que foram repreendidos para que se calassem. Como porém, silenciar o sofrimento, perdendo a única oportunidade de libertar-se dele?!

Somente a necessidade sabe quanto é cruel a dor e quão tormentoso para o invidente constitui seguir pela noite interna, sem contato com a luz do Dia.

Aqueles que os repreendiam possuíam visão e estavam disputando-se as moedas de alegria que Ele distribuía. Era natural que também desejassem receber a mesma oferta de felicidade, e não se calaram, antes aumentaram o vozerio, suplicando a piedade do Senhor.

Jesus conhecia aqueles homens inditosos e aflitos. Era o Pastor, e se identificava com todas as ovelhas que Lhe pertenciam.

Não fazia muito, libertara paralíticos da imobilidade, surdos da ausência de sons, loucos da perturbação que os estigmatizava, por que não fazer o mesmo com aqueles infelizes? Deteve-se, então, e aproximou-se deles. Todo luz, irradiava misericórdia em cântico silencioso de amor.

Acercando-se dos requerentes de ajuda, interrogou-os: - Que quereis que vos faça?

Era uma indagação lógica e própria do Seu caráter. Nunca se impunha, jamais exigia. Sempre ouvia o problema do sofredor, antes de o ajudar a solucioná-lo. Era o poema de ternura, que nunca perde a docilidade, nem se torna exigente.

E eles responderam, imediatamente: - Que nos restituas a visão, permitindo-nos ver a claridade da luz.

Um silêncio incomum tomou conta da multidão. Jamais se cansariam aqueles indivíduos de ver a ação incomum e de ouvir a mensagem libertadora, que não souberam ou não quiseram utilizar conforme deveriam. No entanto, ali estavam, e isso é o que importava.

O Senhor se aproximou suavemente e tocou-lhes os olhos apagados. Uma onda de inexplicável energia penetrou-os, rompeu-lhes o véu da noite e a escuridão cedeu lugar à luz que os invadiu, provocando a princípio uma grande dor, logo seguida de inefável alegria... e O seguiram cantando hosanas!

A epopéia da Boa Nova, toda entretecida de lições verbais e de ações profundas de libertação, alcançava o máximo de realizações, a fim de que todos soubessem quem era o Cantor, e qual a canção que entoava, mas nem todos que O acompanhavam podiam entender e abandonar tudo que lhes constituía cárcere e retenção para O seguir depois em liberdade, embora anelassem por ela...

Jericó vira a cura do cego Bartimeu, que Lhe implorara a claridade exterior, mas não se sabe do que lhe aconteceu depois, se mergulhou no oceano das claridades espirituais ou se tombou nas sombras do prazer e da alucinação.

Zaqueu, também de Jericó, que O recebeu, quando lhe chegou a velhice e se desincumbiu dos deveres familiares, entregou-se-Lhe, tornando-se testemunha dEle, e narrando à posteridade a felicidade que lhe foi concedida ao tê-lO no lar.

Os dois cegos do caminho recuperaram a visão, mas não se tem notícia de que se houveram embriagado da luz da imortalidade, ou se volveram à treva densa da alma...

O mundo de ontem, qual ocorre com o de hoje, estava dominado pela cegueira interior para as verdades espirituais, e por isso, os homens e mulheres do passado, perdidos na sombra de si mesmos, retornaram para o grande encontro com a Verdade, que ainda postergam.

A mensagem dEle volve às Suas criaturas distraídas, que lamentavelmente não têm ouvidos nem interesse para introjetá-la, tornando-a lição de vida atuante.

Iluminados pela ciência e pela tecnologia, com arsenais de filosofias e de belezas, centenas de milhões vêem, mas são cegos para seguirem pelo caminho de libertação que Ele continua apontando-lhes, por não identificarem que o seu piso é argamassado pelo amor e as suas bordas são construídas pelo perdão e pela caridade, conduzindo à paz.

Vêem, sim, mas não enxergam. Têm olhos que brilham, mas que ainda não perceberam a luz do discernimento nem da misericórdia.

Dia virá, no entanto, que repetirá para a Humanidade, a cena da Sua saída de Jericó, e os cegos bradarão: - Senhor, tem misericórdia de nós...

E Ele abrirá os olhos da alma de todos para a renovação e a vida eterna, no mundo de hoje, que faz lembrar da Jericó de ontem.