A pastoral imobiliária
É coisa de doido. Ou esperteza
Por Juracy Andrade, no JC de hoje
O último capítulo da "pastoral imobiliária" do antecessor de dom Fernando Saburido ainda vai dar muito o que falar. E a vontade da sociedade vai se impor sobre interesses miúdos e sobre consequências desastrosas de uma administração plena de rombos financeiros. É inadmissível transformar em mais uma catedral de vendas uma área tombada, o terreno onde funciona o Hospital Ulysses Pernambucano, que se estende pela Tamarineira entre as Avenidas Rosa e Silva e Norte - Miguel Arraes e é um patrimônio recifense de preservação do pouco verde que nos resta, e também da memória do grande psiquiatra que iniciou aqui o ensino da psicologia e o tratamento de psicopatas. É coisa de doido. Ou esperteza...
Já se pronunciaram contrários à alienação personalidades qualificadas. E, na última terça, neste jornal, Joca Souza Leão, que já havia alertado para a possibilidade de a Santa Casa (que casa pecadora!), cuja posse do terreno é contestada com sérios fundamentos, teimar em negociar o que não é dela, voltou com artigo bem baseado. Para ele, o negócio em foco é uma vingança de dom Cardoso contra o recifense, que adorava dom Helder e não engoliu seu substituto.
Dom Fernando Saburido herdou um ouriçado abacaxi para descascar. A arquidiocese de Olinda e Recife foi espiritualmente desmontada durante um quarto de século e seu patrimônio manipulado incompetentemente. Um dos primeiros atos daquele que é conhecido em Caruaru como dom Dedé Cabeção foi escantear, sem uma vírgula de agradecimento, uma comissão de alto nível nomeada por dom Helder para fiscalizar e controlar os atos do interventor nomeado para a Santa Casa (tantos eram os desmandos que foi preciso uma intervenção). Integravam a comissão nomes sérios e respeitados pela sociedade, como Lauro Oliveira, Pelópidas Silveira e outros.
Cerca de um ano antes de favorecer com sua ausência, dom Dedé encenou uma intervenção na Santa Casa (uma intervenção na intervenção?!), prometendo divulgar resultados logo. Cadê? Nem ele nem o interventor supostamente afastado responderão por seus atos? Dom Fernando não pode desautorizar seu antecessor, o qual está protegido pelo direito canônico e pela "infalibilidade" de quem o nomeou. Resolveu tratar o caso com a transparência possível, mas está amarrado a essa pedra.
Antes de finalizar, quero dizer ao amigo José Adalberto Ribeiro, que criticou minha "falta de independência" por não falar da morte de um prisioneiro político em Cuba, que já tem gente demais falando mal do país, geralmente gente que acompanha os Estados Unidos na bênção a qualquer estripulia "democrática e liberal". Quem sou eu para cobrar "independência" de nenhum colega? Conheço os condicionamentos da imprensa, e também não sou bedel nem juiz. O importante é que a fala ou o silêncio não sejam pagos com o ouro de Moscou (que secou) ou de Washington.
P.S. – Dia 15 deste às 19h, vai ser lançado, na igreja das Fronteiras, o livro Vivos para sempre, sobre a vida de São Vicente de Paulo e de Santa Luiza de Marrillac. *** Na próxima sexta-feira, dia 12, a partir das 19h, serenata dos Papudinhos de Casa Caiada, no Barzinho Girassol, orla pertinho do Quatro Rodas, com Humberto Barradas. O diretor-presidente do Girassol, Bejinha, está num pé e noutro. *** O Museu de Arte Contemporânea de Olinda inaugura amanhã, Dia Internacional da Mulher, às 19h, uma exposição de fotografias de Marcus Prado, Mulheres da vida, com palestras e outras atrações. O tema é a mulher na literatura brasileira e pernambucana.
» Juracy Andrade é jornalista