quarta-feira, setembro 05, 2007

Palavras Cruzadas, talento para os desafios


O passatempo surgiu no início do século passado em um jornal norte-americano e ganhou o mundo. No Brasil, a primeira revista de palavras cruzadas foi lançada como A Recreativa, em 1950, fundada por Owen Ranieri Mussolin e dois amigos. Hoje, é administrada pelos dois filhos do fundador Mussolin. A Ediouro lidera o mercado com 90 títulos mensais e tiragem de dois milhões de exemplares. Há ainda a Duque, com uma edição mensal de jogos culturais, inclusive cruzadas. A Recreativa tem três títulos mensais que somam tiragem de 150 mil exemplares. Sem contar os jornais que publicam cruzadas diariamente. Mesmo com a tecnologia, é preciso um toque pessoal para produzir o desafio das palavras. As editoras utilizam softwares próprios para fazer as combinações. O software da Ediouro inclui 500 mil perguntas e respostas divididas porníveis de dificuldade. O programa desenvolvido pela Recreativa dispõe de 60 mil enigmas e soluções. "Mas sempre tem talento humano atrás dos jogos", diz Henrique Ramos, da Ediouro. A empresa conta com uma equipe de 30 funcionários e 125 colaboradores fixos para produzir as cruzadas. A Recreativa tem 10 empregados e 15 colaboradores fixos. Entre os funcionários estão revisores, diagramadores, checadores e resolvedores, para garantir a qualidade do produto e evitar erros. O diretor da Recreativa, Paulo Renato Durante, comenta que a editora guarda um dicionário de 11 volumes escrito à mão pelo fundador. Ele explica que as cruzadas da Recreativa propõem desafios maiores aos praticantes porque exigem pesquisas e conhecimento. "Há sempre uma charada, uma pegadinha a ser solucionada", conta. Pesquisas da empresa apontam que o perfil dos que compram as revistas da Recreativa tem alto nível cultural e de escolaridade, pertencem às classes A e B, 85% têm idade superior a 50 anos e 52% são mulheres. O público da Coquetel é bastante diluído. A empresa tem publicações para a partir de três anos de idade. As pesquisas encomendadas pela editora revelam um perfil muito variado, conforme os títulos. "Mas sabemos que metade dos praticantes de nossas cruzadas tem até 30 anos", aponta Ramos. Os praticantes vão desde os ocasionais até os mais fiéis. O ex-prefeito de Campinas Lauro Péricles Gonçalves é um fã antigo de cruzadas da Recreativa. "Faço desde 1955", conta. Ele compra os três títulos mensais da editora, para resolver quando tem tempo sobrando. "Durmo quatro horas por noite, acordo cedo e me distraio com leitura e cruzadas." Garante que o passatempo o auxilia na concentração. "Ajuda-me a pensar e a resolver outros problemas", afirma. Além de enriquecer vocabulário e estimular a memória. Prefere não traduzir a atividade como vício. "É hábito". A aposentada Maria Helena Badolatto conta que "adora" palavras cruzadas. Faz para distrair e reduzir a ansiedade. "Quando me sinto sozinha, com saudades dos filhos, faço as cruzadas para não ver o tempo passar", conta. Garante que a atividade ajuda a espantar a tristeza, além de estimular o conhecimento. "Aprendo muito, relembro datas importantes da história que tinha esquecido e conheço até palavras em inglês", diz. Maria Helena compra revistas de passatempos em bancas e faz "tudo o que acha pela frente". Os filhos costumam recortar cruzadas de jornais e colar em cadernos para entregar à mãe. "Quando compro um livro novo, quero logo ver o fim", diverte-se a aposentada. Ela explica que também "adora" tricô. Aos 74 anos, diz que as atividades ajudam a se manter saudável. "Quando a gente se ocupa com o que gosta, tem mais saúde", afirma.

Ensino divertido


Fazer palavra cruzada é um desafio que exige lembrar, comparar, escolher, relacionar, planejar, imaginar, pensar e outras atividades mentais, conforme a professora da Pontifícia Universidade Estadual de Campinas e doutora em Educação Miriam Pascoal. Segundo ela, o desenvolvimento dessas funções ajudano processo de aprendizagem. Miriam afirma que as cruzadas contribuem também para o desenvolvimento psicológicodo indivíduo, por representar elementos culturais presentes no ambiente emque ele vive. "O vocabulário do praticante se torna mais rico. No caso da criança, o vocabulário aumenta rapidamente e os significados também vão se transformando, acelerando o processo de aprendizagem escolar", diz. A professora Miriam Pascoal diz que o jogo estimula o interesse e pode ser uma maneira lúdica de ensinar ortografia, "quase sempre um grande problemanas escolas". Por isso, pode ser utilizado como ferramenta didática para estimular o aprendizado. Ela lembra que a editora Ediouro tem uma parceria com escolas para disponibilizar cruzadas como material didático. O diretor-editorial da Ediouro, Henrique Ramos, comenta que 16 mil escolas já participaram do projeto desde 2001, autorizado pelo Ministério da Educação. "Essas atividades ampliam o universo cultural dos participantes", diz Miriam. As próprias escolas podem desenvolver passatempos dentro do processo didático. "Depende muito da criatividade do professor. É possível selecionar personagens, fatos, eventos, datas, idéias, palavras, conceitos e pedir que os alunos organizem suas próprias palavras cruzadas, caça-palavras, criptogramas. Isso pode ser feito em qualquer componente curricular: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e outros. "Embora não exista pesquisa científica sobre o tema, a professora avalia que os alunos estimulados a praticar esses passatempos apresentam melhor desempenho escolar. "Fica aí uma boa sugestão para os pesquisadores da área educacional".

Exercício envolve diversas regiões do cérebro, diz neurologista
A prática de palavras cruzadas pode ser grosseiramente comparada a uma atividademuscular, explica o neurologista Fernando Cendes, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "É como fazer um exercício para fortalecer determinadas regiões", diz. Ele esclarece que as cruzadas entram no conceito de atividade cognitiva de modo geral, como leitura e outros passatempos de desafio. "Não há evidências específicas sobre o efeito das cruzadas no cérebro". Mas o neurologista indica que as atividades cognitivas estimulam a comunicaçãoentre as regiões cerebrais, exercitam as áreas de linguagem, leitura, codificação das palavras e memória. Os resultados são aprimoramento do desempenho da linguagem, do vocabulário, ativação da memória e raciocínio rápido.
"Para processar a informação, o indivíduo envolve diversas regiões do cérebro. É um exercício", diz Cendes. Eles usam:

- "Palavras cruzadas e bordado são os melhores passatempos que
conheço." Glória Pires, atriz.

"Acho palavras cruzadas um bom divertimento; exercita o
vocabulário e, para quem anda estressado, ajuda a desligar um pouco."

Jonas Bloch, ator2 - "Faço palavras cruzadas há pelo menos 30
anos. Não só para testar meusconhecimentos, mas para me distrair e manter
meu
vocabulário estimulado. Nos momentos mais curiosos eu faço palavras
cruzadas.
Quando preciso tomar uma resolução, a palavra-cruzada me faz
pensar na decisão
enquanto me divirto, raciocino. É um divertimento
realmente agradável,
estimulante, enriquecedor, ajuda a me desligar ficando
ligado."

Tony Ramos , ator "Duas coisas eu não deixo de fazer: palavras
cruzadas e problemas de matemática. Faço quase diariamente por recomendação
médica do meu geriatra. Além de manter a mente ativa, as palavras cruzadas
ajudam a relembrar assuntos que já esquecemos. Todo mundo deveria fazer
palavras
cruzadas, não apenas as pessoas da minha idade, especialmente essa
juventude com
vocabulário tão pobre. Palavras cruzadas deveriam ser quase
matéria escolar.
Acho ótimo, fundamental para todo mundo." Cleide
Yáconis, atriz3

-"Sou viciado em palavras cruzadas, faço muito,
principalmente em avião, e há bastante tempo. Eu gosto de fazer. A palavra
cruzada trabalha memória, exercitando a mente, mantém o raciocínio em
alerta. É
útil para a memória, que, eu acho, é muscular e precisa de
exercício."

Stênio Garcia, ator "Eu não faço palavras cruzadas, eu resolvo.
Como viajo muito, sempre tenho revistas comigo no vôo, a gente chega mais
rápido. É um exercício ótimo para estar azeitado, botar óleo na máquina,
além de
ser um veículo altamente educativo. Amplia nossos conhecimentos, é
muito
interessante e divertido." Ary Fontoura, atorDepoimentos a
Ediouro

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