Antônio Campos
O
Brasil experimenta o melhor momento de toda sua história quanto à estabilidade
econômica e há uma feliz perspectiva de crescimento. O país não só resolveu a
dívida externa, acumulada desde que era colônia de Portugal, como passou a ser
credor do Fundo Monetário Internacional (FMI). Vem obtendo fechamentos cada vez
mais positivos em sua balança comercial. Tem recebido fortes investimentos de
companhias estrangeiras, que apostam com vigor no mercado nacional. Descobriu
uma extensa camada de óleo sob suas águas (pré-sal) e até recebeu a concessão
para sediar sua segunda Copa do Mundo de futebol e a primeira Olimpíada a ser
realizada no continente sul-americano, que acontecerá no Rio de Janeiro.
Além
disso, atravessou uma das mais violentas crises econômicas globais de todos os
tempos e saiu quase ileso. Por isso mesmo, o Fórum Econômico Mundial escolheu o
presidente Lula como o primeiro vencedor do recém-criado Prêmio Estadista
Global, pela condução da economia brasileira durante a crise financeira
mundial. Antes mesmo desse Fórum, economistas de vários países já previam que o
Brasil será a quinta maior economia do planeta até 2020. Todos esses fatos são
extraordinários. Contudo, as relações internacionais do Brasil precisam ser
vistas não apenas sob o prisma dos entendimentos político-econômicos. É
necessário se pensar e desenvolver de forma mais eficaz a nossa diplomacia
cultural, o nosso diálogo com as culturas dos outros países.
A
atividade mercantil e os negócios financeiros promovem o contato entre as
pessoas, mas nada melhor que a cultura para fortalecer as raízes do processo de
integração entre as sociedades. As desconfianças e rivalidades atenuam-se
rapidamente quando há um maior nível de conhecimento das especificidades do
outro. Se atentarmos para isso, veremos que a difusão da história cultural dos
povos influencia positivamente na maneira de pensar as relações entre os
Estados. As representações das diversas culturas constituem-se em objetos
históricos legítimos, portanto um maior intercâmbio das práticas e produções
culturais precisa ser sempre promovido.
Infelizmente,
a cultura ainda é considerada por muitos algo supérfluo, não é valorizada nem
como um instrumento de aproximação das sociedades nem como facilitadora do
avanço da integração mundial ou regional. No Mercosul, por exemplo, as questões
culturais são muito pouco debatidas. Os ricos patrimônios culturais dos países
integrantes permanecem ignorados e não são utilizados como instrumentos para a
construção de vínculos de confiança e de cooperação entre seus povos. A
ausência de uma política cultural dos países que o integram deixa claro quais
são as prioridades: as de natureza comercial.
O
aspecto cultural nas relações internacionais brasileiras pode e deve ser melhor
cultivado. Precisamos promover iniciativas integradas aos países de todos os
continentes para estimular um conhecimento mútuo e divulgar os principais
aspectos da cultura brasileira, instaurando, assim, uma política cultural que
vise à harmonia e ao congraçamento entre os povos, antes mesmo que qualquer
comercialização do produto cultural. Uma significativa ação nesse sentido seria
a implementação do Instituto Machado de Assis (IMA), instituição que deverá
ficar ligada ao Ministério da Cultura (Minc). O instituto foi idealizado para formular e coordenar as políticas de promoção da
língua portuguesa no Brasil e no mundo, induzindo e organizando pesquisas sobre
o idioma, além de ser referência para o ensino e formação de professores e
promover atividades científicas e culturais visando à divulgação da língua
portuguesa e da cultura lusófona.
O
Português é o idioma usado por duzentas milhões de pessoas, constituindo-se no
quinto mais falado do mundo. Cabe ao governo
brasileiro estruturar o projeto de criação do IMA nos moldes da declaração conjunta
entre Brasil e Portugal, por ocasião da VIII Cimeira Luso-Brasileira, realizada
na cidade do Porto, em 2005, na qual ambos os países asseveram a importância da
promoção da língua portuguesa em nível internacional. Servirão como referência para
a contextualização e o início da constituição de uma entidade adequada à
realidade brasileira instituições
tradicionais e experientes nesse mesmo trabalho, a exemplo do Instituto Camões,
Instituto Cervantes, Instituto Dante Alighieri e do British Council. O Instituto
Machado de Assis deve contribuir ainda para o efetivo desempenho das práticas
sociais da escrita e da leitura para todos os cidadãos brasileiros. É imperioso
que em breve seja ‘tirado do papel’, contribuindo para iniciarmos uma nova
diplomacia cultural no Brasil
©
Jornal do Brasil, Idéias & Livros, fevereiro de 2010
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quarta-feira, fevereiro 17, 2010
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