Domingo à
tarde, mais ou menos, umas 17h30, bem ao lado da rua da Imperatriz, na Praça
Maciel Pinheiro encontro uma cena atípica, jovens rodopiando com gestos sutis
e, ao mesmo tempo, sensuais em cima de um andaime, mas com movimentos usados em
um trapézio de circo. Algo, no mínimo, instigante e inspirador.
Encontrei,
junto aos mais novos, alguém que, de longe, parecia o responsável. Não
tardou muito para saber que se tratava de um ensaio aberto. Oséas Borba era o
nome do rapaz que se apresentou como diretor do grupo de teatro João Teimoso, o
qual aqueles jovens faziam parte. No mínimo ousada aquela iniciativa que fazia
o centro do Recife parar em pleno domingo à noitinha: “em meio ao descaso e
abandono que se encontra a praça Maciel Pinheiro, o Grupo João Teimoso traz
ensaios abertos, aos domingos, com o seu projeto Guerrilha Cultural alegrando a
população e transeuntes à margem da cidade”, soltou o diretor, revelando que,
há mais ou menos seis meses já ensaiava naquele local.
Resolvi sentar
em um cantinho e admirar - junto à mim, a estátua da Clarice Lispector que,
mesmo meio deteriorada, ainda “presenciava” alguma coisa. Aos poucos, fui
sabendo daquele Grupo que completara dez anos em abril deste ano e escolhera o
mês de outubro (décimo do ano), para comemorar o seu aniversário com a mais
grata satisfação de qualquer grupo cênico, atuar. Em meu cantinho, calada,
percebi cheiros e perfumes, mesmo sem os atores exalarem nada, os sentidos eram
aguçados. Dava-se até para sentir o gostinho agridoce de uma romã em meio a uns
pingos d’água que saltavam da abandonada e notável fonte secular, confeccionada
em Lisboa e trazida diretamente ao Brasil, esculpida em mármore (7,85 de
altura), disposta em quatro planos, na qual quatro ninfas e uma índia aparecem
sustentadas por quatro leões em repouso. Simplesmente espetacular! Cenário
melhor não poderia existir como fonte inspiradora na encenação de um espetáculo
que remetia aos deuses, semi-deuses gregos.
Não tardou
muito para saber que logo estrearia aquela peça de nome mitológico, Hades, no
final de semana seguinte. Vaidade,
instintos, disputa de egos, valores e superação fazem parte de um espetáculo
mitológico e ousado.
Pintou
curiosidade!? É só não deixar de assistir ao espetáculo Hades aos sábados e
domingos, a partir de oito de outubro sempre às 20h, em curta temporada. Uma
peça que traz ao público a mistura de várias linguagens cênicas e conflitam
características humanas e mitológicas. Tudo isso encenado por um elenco jovem e
comprometido.
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