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Quem nunca se emocionou ao ouvir tocar "Brasil, meu Brasil brasileiro//Meu mulato inzoneiro... Vou cantar-te nos meus versos//O Brasil, samba que dá//Bamboleio que faz gingar//O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor//Brasil! Brasil!//Pra mim... Pra mim..." - excerto de "Aquarela do Brasil".
A ssim cantava o compositor mais representativo da era do rádio e o maior nome do samba-exaltação teve um começo difícil. Filho de um advogado e cantor de modinhas, Ary Barroso ficou órfão aos 7 anos e foi criado pelas tias-avós, que queriam fazê-lo pianista de concerto, obrigando o menino a praticar três horas por dia. Aos 12, em 1915, já trabalhava no cinema de Ubá (MG), acompanhando ao piano os filmes mudos exibidos. Aos 18, ganhou uma pequena herança e partiu da cidadezinha mineira para estudar Direito no Rio de Janeiro. Levou nove anos para se formar e nunca exerceu a profissão. Para se sustentar, tocava piano em cinemas e cabarés, na época em que o teatro musical estava em ascensão. Acabou seduzido pela boemia carioca.
Em 1930, Ary ganhou o primeiro prêmio de concurso carnavalesco com a marcha Dá Nela. Nos anos seguintes, compôs Vamos deixar de intimidade, Faceira, Rancho Fundo (com letra de Lamartine Babo) e Camisa Amarela. Depois veio a fase em que recorreu ao pitoresco e ao sentimento patriótico, em composições de grande sucesso no exterior, como Na Baixa do Sapateiro e No Tabuleiro da Baiana.
Composto em 1939, em pouco tempo o samba-exaltação, Aquarela do Brasil passou a figurar como hino nacional alternativo. Foi gravado centenas de vezes em todo o mundo, a primeira delas, na voz de Francisco Alves, com arranjo de Radamés Gnattali.
Em 1933, Ary conseguiu emprego na Rádio Philips e descobriu sua vocação para comandar programas de sucesso, o que faria mais tarde também na televisão, com Calouros em Desfile e Encontro com Ary. Intransigente com quem tivesse gosto ou opinião musical diferentes dos seus, seus programas revelaram nomes que fariam história na música brasileira, como Lúcio Alves, Luiz Gonzaga, Elza Soares e Elizeth Cardoso.
Ary era temido pelos calouros, de quem exigia que só cantassem músicas nacionais, a única exceção foi Dolores Duran, que cantou em inglês na Hora do Calouro. Ainda na década de 30, Ary Barroso começou a trabalhar como locutor esportivo, profissão até então enfadonha e burocrática, que nunca mais foi a mesma depois que Ary deu um tom emocional à transmissão dos jogos, sem disfarçar sua torcida pelo Flamengo, cujos gols comemorava, no ar, com uma gaitinha de boca.
Em 1944, visitou os Estados Unidos, musicando o filme Você já foi à Bahia?, de Walt Disney, o que lhe valeu o diploma da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood. Como compositor, retornou, nos últimos anos, aos temas familiares e cotidianos de sua primeira fase, em sambas como, Folha Morta, Ocultei e Risque. Em 1955, junto com Heitor Villa-Lobos, recebeu a Ordem Nacional do Mérito. Ao todo, Ary Barroso compôs 264 canções.
Fonte: Livro 100 Brasileiros (2004)
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